quinta-feira, 9 de julho de 2015

O grande desgosto de escrever

Quem pode me garantir que um dia vou conseguir voltar a escrever?

Enquanto digito, eu leio em voz alta, como se tivesse em uma cena de filme dramático.
Eu bebo meu whisky, fumo um cigarro e sonho ser um poeta idoso e amargo, com voz rouca e toda a criatividade do mundo.
Eu sonho regar romances com as minhas palavras, sonho arrancar suspiros, sonho entender alguém que nunca vi na vida.
Eu sonho egoísta, sonho sozinha.

Mas elas me usam.
Aparecem apenas quando não aguentam mais estar em mim, 
As vezes eu preciso que elas saiam bem antes.
Eu me sento, escrevo e apago, 
São quatro da manhã.
Por favor, saiam de mim

As vezes doem tanto, as vezes não são reais.
As vezes saem como entraram, as vezes eu não consigo vê-las.
Por que dói tanto?
Escrever é horrível! 
E quem me garante que eu vou conseguir voltar a escrever?
Eu quero tanto, eu preciso tanto. 

Escrever é horrível. 

Eu preciso de ajuda! Eu preciso de um professor, eu preciso voltar a estudar literatura.
Eu preciso sentir, voltar a agir, voltar a viver.
Tem quanto tempo que eu não saio de mim? 
Alguém me diz o que aconteceu no intervalo de tempo entre as minha preces e a realidade.
Eu me perdi e não consigo mais escrever.
Como eram os movimentos dos dedos? Como eram as palavras? Por que elas não param de se repetir?
Como é mesmo a concordância daquela frase? Aquele verbo fica no infinitivo? 
Que dia eu esqueci como se escreve?

Eu odeio profundamente escrever.
Odeio o jeito com que eu penso em versos e o jeito com que eles se desmontam quando vão pro papel.
Eu não aguento mais ficar sem escrever.
Alguém me ajuda, alguém me ensina a colocar para fora.
Eu não me lembro como é escrever.