sábado, 16 de março de 2013

-Larara - escavam de seus lábios uma canção como sussurro.
- Lara... - cada vez mais baixa
- La... - cada vez mais pro ouvido.
 Mais pra ele, mais pro coração.

segunda-feira, 4 de março de 2013

3 segundos.

I-
Lentamente Marcos foi recuperando a consciência. Primeiro sentiu o cheio podre de meias velhas e sujas jogadas em algum canto do quarto. Em seguida tentou ouvir algum som, para adivinhar que dia da semana estava. Motos, buzinas, palavrões... Segunda-feira! De vagar foi abrindo os olhos e começou a sentir sua cabeça pesar, seu corpo doer, sua voz falhar. Gripe é uma merda.
Tudo estava nos conformes. Pizza velha jogada pelos cantos da casa. Garrafas de cerveja barata rolando pelo chão. Televisão ligada em um programa de auditório com uma puta loura falando merda sobre atores fodidos e com dinheiro até a goela.
Desligou sua televisão antiga que foi escurecendo nas bordas até o centro.
Rádio.
-Nossa, nossa, assim você me mata...
-Música fodida, bando de arrombado! - balbuciava palavrões com tanta naturalidade que eram apenas palavras normais.
Arrancou da tomada seu aparelho de som e o jogou na parede. Soltou um riso sádico e começou a catar toda sua sujeira aos gritos que eram quase que semelhantes a 5ª sinfonia de Beethoven.

II-
No meio de um sonho muito confortável o som alto do meu celular tocava Alala-Cansei de ser sexy
Era da editora e tinha certeza que aos berros, o editor chefe iria me cobrar mais um capítulo do meu livro.
- Alô, bom dia! - tentei ser cordial, estava errado mesmo.
- Claro, claro... ótimo dia! Meu dia está maravilhoso porque tenho certeza que agora mesmo vou atualizar a página do meu e-mail e terá não um, mas dois capítulos do meu livro. - "meu livro", eu faço todo o trabalho e o livro é dele.
- Bem, sobre isso, Marcus... eu não escrevi ainda, mas juro que até o final da semana eu te entrego os dois capítulos.
- ATÉ O FINAL DA SEMANA? VOCÊ QUER ME FODER? - desliguei o telefone e sabia que as consequências viriam.
Sentei-me na cama e levantei os braços o máximo que pude. Ao colocar os pés no chão senti o frio como um choque e procurei minhas pantufas.
Já animado para minha busca por inspiração andei até a cozinha para tomar uma tigela de cereal.
"Quanto tempo é necessário para mudar sua vida?" Eram essas as palavras escritas em tinta vermelha-sangue na minha parece branca. "Ligue 9856-2569".
Sentado no balcão de minha cozinha olhava aquelas palavras enquanto segurava o meu telefone já com o número discado e medo de ameaças.
Ligo?

I-
"Ligue 9856-2569".
- Marcos, você tem múltipla personalidade.