domingo, 10 de fevereiro de 2013

Morrer não dói?

Quanto sangue ainda podia faltar para que toda aquela união de órgãos morresse?

Mas ainda estava lá, caminhando. Viva. Estava sozinha? Esta dúvida era cortante.
Continuava a andar. As pedras úmidas formavam um eco a sua volta. Suas cordas vocais já não aguentavam mais:
 - Olá?
- Olá? Olá? Olá? – Essas repetições lhe davam esperanças.
Estava sozinha! Agora era uma certeza.
- Eu nunca tive essa dádiva da fé – falava em voz alta para fingir uma companhia e não enlouquecer. – Acho que o mundo sempre foi muito honesto comigo. Honesto, não justo.
 - É difícil acreditar, mas perto de tudo que passei certamente o diabo sente-se orgulhoso...
- E o que eu já te fiz de tão ruim? – Foi interrompida por uma voz.
Lá estava um rapaz louro e de olhos azuis, com um risinho irônico e uma beca alva.
- Quem é você? O diabo? Temos assuntos pendentes.
- Refresque-me a memória... Quem sabe de tudo é “Deus” – falou fazendo aspas no ar – eu sou imperfeito – porém, sem sombra de dúvidas, detentor de uma beleza inigualável.
- HAHAHA “Vou te fatiar para que fique irreconhecível até aos olhos de sua própria mãe”, foi isso que consegui ouvir de um guarda referindo-se ao meu irmão. Depois destas excitantes palavras o meu corpo foi invadido por aquele gordo. Isso aconteceu bem em cima das vísceras dos meus parentes.  Logo depois fui descartada, pois sou “um excremento”. Esse tipo de coisa não faz uma jovem garota crer em um deus, nem que seja para xinga-lo.
- Pelo que eu já vi e passei – continuou de forma tão indiferente que nem parecia que tudo aquilo era tão recente – sei que independente do que eu fizer e do que você faça comigo, já fizeram pior.
 - Você conhece a bíblia?  Todos aqueles milagres eu fiz. Os homens não mentiram a respeito de nada. Eu que menti. Eu sou o Deus de todos vocês, mas não tenho ideia de como vim parar aqui e nem porque sou eu. Sou imoral e imortal. Eu os fiz porque descobri que posso criar. Eu os mato para ficar sempre no poder. Acho gostoso ser bajulado como um deus, mas meu tesão é os destruir. Ah, como vocês são uns doces – suspirou com uma expressão sádica no rosto.
Com uma simples piscadela a garota começou a agonizar de forma exacerbada, sem uma simples explicação. Agonizou até finalmente ter espasmo.  

sábado, 2 de fevereiro de 2013


 Seus olhos queimavam em lágrimas quentes. O desespero rasgava sua garganta com ruídos que suas cordas vocais desconheciam.
 Em suas vistas estava novamente aquela imagem. Aquela menina. Uma criança sorridente e bem penteada, de vestido branco que a cobria até os joelhos. Branca como um fantasma, cabelos louros presos em uma presilha de libélula.  
 De repente, em um piscar de olhos, a linda menina se transformava em partes separadas de um corpo humano, partes que nem pareciam um dia ter pertencido a alguém. Era só um amontoado de carne com um rosto sorridente em seu pico. Como uma estrela no topo da árvore de natal. 
 Tentava se esconder daquela visão, mas aquele riso a perseguia, a vozinha aguda e sinceramente animada gritava em seus ouvidos como uma criança mimada: "HA-HA-HA".
 - PARE! PARE! - Arrancava cabelos tentando estancar as risadas. "HA-HA-HA". - POR FAVOR, EU FAÇO QUALQUER COISA!
 "Você sabe o que me faz feliz, irmãzinha". 
 E lá estavam os "remédios". Só assim sumia aquele corpo dilacerado e voltava à temporária calmaria de se sentir seguida todo o tempo por uma criança no qual nunca tinha visto, mas insistia em te chamar de irmã.
 - Eu não tenho irmã, eu não tenho mais irmã – se balançava de forma rápida enquanto sussurrava pensamentos para convencer o cérebro.
 Ela voltou.

 Mesmo depois de claras pistas de que sua única filha estava usando drogas, apenas ao encontra-la na rua, jogada aos mendigos canibais, quando dizia dormir na casa de uma amiga, foi que uma rica e ocupada empresária percebeu que tinham um problema.


- Eu tenho pai, mãe, irmã... Uma menininha linda de 9 anos. - ela viu diante dos seus olhos a imagem daquela bonequinha loura que tinha como irmã e deu um sorriso curto e tímido - Tenho amigos e amigas, comida, diversão, dinheiro... Eu tenho tudo que preciso, mas a única coisa que me mantêm viva são as agulhas.
 Respirou fundo e buscou dentro de seu espírito forças para continuar falando aquelas palavras sinceras e tão pessoais. Não era fácil.
 - Na verdade isso é mentira... Acho que é porque eu aprendi a mentir para me proteger da proteção dos meus pais e me entregar a uma vida em busca da morte. Eu não uso só heroína, na verdade eu usava o que tinha para me tirar da minha vida perfeitinha... 
 Ela suspirou forte e virou os olhos. Tinha certeza que ninguém entendia o que poderia levar "uma garota tão inteligente, bonita e de boa família" a fazer aquelas coisas que ela tinha feito.
 - Sei que minha vida sempre foi boa e que vivia em boa escola com boas pessoas, mas não foi má influência que me fez começar a usar essas coisas. Na verdade eu só queria um pouco mais de ação, mais vida, um pouco mais do que computador, celular e televisão. Eu queria sorrir de verdade e viver aventuras. Estou presa em uma desventura. 
 - Socorro.