quarta-feira, 8 de maio de 2013

Margens

 Dois homens sozinhos, presos na imensidão de um copo só.
 Um copo pela metade para o vazio de um corpo lotado com duas pessoas.
 "Shiu..." Metade de sua alma clamava pelo silêncio absoluto. Outra parte queria o carnaval em orgia dentro de seu quarto. Desejos extremamente opostos costumavam atordoa-los. "afinal, quem sou eu? Que desejo é o maior?'
 Um se comunicava com o outro por escritos pela casa. "Difícil é sentir-se sozinho mesmo morando com um outro alguém".
 "Precisamos nos encontrar, precisamos decidir".
 Como? Como duas pessoas podem ocupar o mesmo espaço?
 Respostas complexas eram presenteadas quando a embriaguez roubava metade de cada um e formava um terceiro que trazia harmonia. Metade perdida se encontrou com outra parte.
 "Você não se parece comigo". Suas percepções de aparência física eram diversas.
 "O que vamos fazer?"
 Um dos dois precisava morrer para que o outro pudesse finalmente viver. Mas como decidir quem é o protagonista daquele corpo?
 A metade mais ébria decidiu em uma epifania que era sua vez de deixar de super lotar um corpo que só cabia sua metade.
 O silêncio pairou em casa. Não acordava mais com desconhecidas o chamando de amor. Não se irritava mais com móveis fora do lugar. O gelo sobrava. Ninguém mais arrumava a cama. Recados grosseiros não apareciam mais em lugares estranhos. Riu ao lembrar-se destes recados.
 Como a loucura da multidão pode ser harmônica? Qual a lógica de achar paz na presença-ausente de um grande bagunceiro que lhe deixava rastros de sua personalidade controversa. Personalidade que matou.
- agora como sei que não matei parte de mim mesmo?
 Escondido no papelão do rolo do papel higiênico achou o último recado:
"Queremos ser 5, mas somos 2+3, matando o 2 não se forma 5."