sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Mantenha-se feliz

- E o que você sente por mim?

- As vezes cada palavra minha pode parecer uma mentira descarada, 
Que escrevi cuidadosamente para roubar seu coraçãozinho desavisado.
Sei que depois dos 12 a gente para de acreditar em amor a primeira vista
E que aos poucos a gente se cansa dessa história repetitiva. 

Mas eu me lembro do que você estava vestindo a 4 anos atrás,
Quando eu te vi e fiquei lá, parado.
Não vou dizer nada sobre o mundo mudar todo o sentido,
Mas não estou nem exagerando sobre eu querer estar ao seu lado. 

Imagina, como eu poderia ir falar com você?
Não tenho coragem hoje, depois de tudo. 
Fiquei de longe, fingindo que você era mais uma naquela multidão. 

E hoje, ainda. Quando você fala alguma coisa de surpresa,
Parece que o meu coração bate rápido e devagar, de um jeito frio,
Mas consigo sentir meu rosto queimar e seu que estou corando.
Estou aqui falando, falando e falando, mas não disse o que sinto. 

Porque sinceramente eu não sei o que é isso...
Eu não vou dizer que o que eu sinto é igual em um conto de fadas, 
Não vou falar que é igual na vida real,
Onde o ciúme é rei.

O que eu sinto por você está longe de tudo do que eu já li.
Se Camões não me contou o que é isso,
Se minhas amigas do MPB não sabem como me aconselhar...
Me diz, por favor, me diz o que eu sinto por você.

Se minha garganta não estranha quando não te vejo, 
Se não sinto um fogo que arde sem se ver. 
Se não é nada disso, nem nada do que eu já tenha dito antes.

Acho que o que eu sinto por você só se aproxima do que eu acho sobre você.
E aí eu posso entrar em um ciclo eterno, 
Porque isso só se assemelha ao que eu sinto quando estou perto de você.

- E o que você quer que eu faça?

- Quero que você faça algo que te deixe feliz. 

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

De todos os silêncios acumulados em um pequeno universo perto de nossa galáxia particular:
Você sorriu.
E desde então toda a minha capacidade de compreender o mundo, as pessoas, os sorrisos.
Mudou.
Nem sei ao menos se isso é uma poesia, uma prosa, uma dissertação, ou uma piada.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Coma


Deitei na cama e coloquei um travesseiro na vertical, ao meu lado. Boba, fantasiei seu corpo. Chorei sozinha no quarto desejando o abraço de um objeto.
Encostei aos poucos meu rosto no que pensei ser sua costela e caindo no sono, sua mão foi encostando em minha cabeça. Quanto mais sonolenta mais você me tocava, me acariciava.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Aprendendo a aplicar "nunca"

Dos pontos mais longes,
A retaseria o seu melhor caminho.
As estradas pontilhadas
Eram minha escolha.

Encontros e reencontros.
Algulmas coisas congelam os ares,
Outras voam o tempo.
E as duas podem ser a mesma metáfora.

Entre pássaros fazendo verão
E beija-flores parados no céu,
Um universo conspira injustiças,
Milagres desesperados
Por um coração pecador.
E eu repito o cantor:
"Criancinha levando prego no olho".

De todos os viéses,
No centro da rodovia,
Com os braços abertos,
Dançava ao meio dos faróis.
A música gritava amor aos ouvidos,
E sangue escorria ao chão...
Da terra santa.

Pernas grossas de uma dançarina doente,
Beleza exagerada aos olhos nus.
Alegria onde havia dor
E adivinha?
Vejo o contrário flutuando pela luz da janela.

Lama verde trazendo saúde
E aquele antidepressivo,
Suicidando-as.

Veja a beleza da tristeza
E todo o resto.
Não venho falar do mal do século,
Nem do lobo mau eu tenho a salvar.

Só me veja com este vestido
E vai saber que nada acabou
E nem acabará

domingo, 11 de agosto de 2013

Boate nasal

Eu queria escrever um livro, um texto qualquer, ou até uma poesia, mas o meu caderninho de sentimentos guardados ficou caído entre o diário do ano passado e meus bons modos. Bem no fundo da última gaveta e cheio de poeira. 
As pessoas escrevem de poeira de uma forma bonitinha demais pro que ela merece. Poeira é o vestígio de um câncer mal curado, na parte mais importante do corpo: O passado.
A poeira me lembra a tudo que não presta, me lembra a tudo que é ruim, me lembra sobre o que hoje eu acordei com vontade de escrever: Você. 
De todos os pós e grãos você e a poeira são os piores. Você, pior que a areia e melhor que a poeira. Com as suas camisas com cheiro de mofo (não classifiquei o mofo porque não sei se é pó, grão ou vivo) e o cabelo cheio de óleo. Seus dentes são grandes demais e minha cabeça dói com a sua voz, exceto quando você está sendo uma gracinha, nesse momento minha enxaqueca ataca, tipo quando como frango. Que é o segundo vivo que eu mais odeio. O primeiro é você. 

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Vai, mente pra mim.

Anos de sofrimentos massantes.
Sei que pareciam suficientes,
Mas não foram.

Nos últimos meses me dizia curada,
Totalmente feliz,
Só que você não me permite, né?
Nunca me deixou,
Nem quando me abandonou.

Foi vergonhoso te ver de novo,
As pernas tremeram,
As mãos suaram
E todo resto.
Como se nunca tivesse parado de acontecer.

Acho que estava até com saudade,
Parece que sou mesmo do tipo que falam:
"Essa menina GOSTA de sofrer."
Mas você faz sofrimento de uma forma tão sexy.
Me engana de um jeito tão lindo,
Me decepciona com tanto charme.

Me ama de um jeito tão errado.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Eutanásia

Diante todo aquele sentimento óbvio e previsível ele sentiu o vômito em sua goela. Golfou quase que literalmente só de pensar em depressão por mortes de filhos, por desespero a doenças mentais, por medo diante a estupro.
- Consegue ser mais desprezível do que esse bolo de realidade mal escrita? Quando você morre, suas tripas vão ser comida de vermes. Seu corpo é um monte de carne e tripas que não servem de nada. Vá em uma montanha bem alta e longe da cidade. Lá não tem ninguém, você está sozinho em frente aquela imensidão e descobre que não é nada, mas aquilo não é nada perto de outros planetas. Na verdade você é um bolo de merda, absolutamente inútil. Essa é a única verdade. De que vale todo o resto de realidade que você me diz, se fala o óbvio.
- Fracamente, você pode mais, qualquer um pode mais do que retratar tudo isso. Quero te ver chocando com ódio pela vida de um bebê que nasce, infelicidade piegas diante a um namoro comum, alegria pela morte de um marido carinhoso. De que realidade me interessa se deus já cuidou para nos dar olhos. Até amor me é mais interessante do que isso aí. Que amor te deixa louco e exagerado. Francamente. Sofrer por coisas sofríveis é normal demais para ser tão descrito. Apenas pare de

domingo, 23 de junho de 2013

Carta a nós

Querida menina forte, por que faz isso com o meu coração? 
Não sei se tenho muito pra dizer, na verdade, não sei se vai sair mais que "o que você está fazendo aí com esse rapaz?". Não que eu seja ciumento, longe disso, eu só não te quero com um outro garoto que eu sei que nem presta atenção nos seus olhos lindos, ou nas suas fotos maravilhosas.
Sabe menina, você deveria me ouvir mais vezes e começar a parar de preguiça, ainda mais essa sua tal preguiça de amor.
Isso que era para ser uma carta, agora só me parece várias frases juntas, todas elas te pedindo para por favor ficar em minha vida.
Não sei se é amor, paixão, ou só loucura, mas o que eu realmente quero é que a gente more em um apartamentinho apertado, com rosas plantadas na janela, com um sofá de estampa de liberty e almofadas vermelhas. E com você, de cabelos desgranhados, com uma blusa minha, de calcinha e meias. Jogada no sofá e vendo um filme de Almodóvar, enquanto te preparo um café forte.
Não quero chegar aqui e te escrever uma poção de sinônimos difíceis para amor, ou para suas características, nem pro seu sorriso maravilhoso. Eu quero mesmo é passar essas palavras direto para o seu coração e assim começo a desejar que me olhe e diga "nossa, mas eu quero que esse moço traga os discos dele aqui pra casa, nós vamos ouvir Legião e Roberto a noite toda". Não que eu queira casamento oficial, mas morar contigo por uns meses, ou anos, seria incrível.
Talvez eu nunca te entregue esta carta. Talvez eu nunca tenha coragem de te falar nenhuma destas palavras. Mas talvez eu crie uma veia cavaleira e resolva roubar/salvar seu coração para mim. Ou então eu me torne o rapaz que você deseja que eu seja, só para que você me namore de longe exatamente como eu te namoro.
Imagina moça, eu passando no meio de uma multidão que está assistindo uma apresentação qualquer, só pra ir lá no palco pegar brinde, agora eu começo a te imaginar olhando para mim como eu olho para você, me admirando, querendo saber dos meus jeitos, querendo me conhecer melhor que eu mesmo.
Eu quero ser velhinho e completar suas frases, mesmo as que você nunca tinha dito antes. Eu quero ser avô de seus netos e quero que você conte histórias lindas que vivemos quando fomos para a França, para Inglaterra, pro Japão, para todos os lugares. Enquanto conta tudo isso para os netos, estarei preparando um bolo, com aquela receita que pegamos na Itália. Eles sentados no chão e você alisando um gato que adotamos, na cadeira de balanço que compramos na Índia.
Ou a gente pode não ir para lugar nenhum e ficamos abraçadinhos na cama que papai me deu. Tanto faz, moça. Tanto faz todo o resto, basta ter a gente e depois os meninos, mais tarde as crianças e depois de tudo a gente morre junto, na cama. Dormindo, ou fazendo amor. Tanto faz mesmo moça. 
Agora tome esse café e me chame para sair.
Com amor... Você sabe.
Ps.: Será que um dia você lerá isso tudo?

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Margens

 Dois homens sozinhos, presos na imensidão de um copo só.
 Um copo pela metade para o vazio de um corpo lotado com duas pessoas.
 "Shiu..." Metade de sua alma clamava pelo silêncio absoluto. Outra parte queria o carnaval em orgia dentro de seu quarto. Desejos extremamente opostos costumavam atordoa-los. "afinal, quem sou eu? Que desejo é o maior?'
 Um se comunicava com o outro por escritos pela casa. "Difícil é sentir-se sozinho mesmo morando com um outro alguém".
 "Precisamos nos encontrar, precisamos decidir".
 Como? Como duas pessoas podem ocupar o mesmo espaço?
 Respostas complexas eram presenteadas quando a embriaguez roubava metade de cada um e formava um terceiro que trazia harmonia. Metade perdida se encontrou com outra parte.
 "Você não se parece comigo". Suas percepções de aparência física eram diversas.
 "O que vamos fazer?"
 Um dos dois precisava morrer para que o outro pudesse finalmente viver. Mas como decidir quem é o protagonista daquele corpo?
 A metade mais ébria decidiu em uma epifania que era sua vez de deixar de super lotar um corpo que só cabia sua metade.
 O silêncio pairou em casa. Não acordava mais com desconhecidas o chamando de amor. Não se irritava mais com móveis fora do lugar. O gelo sobrava. Ninguém mais arrumava a cama. Recados grosseiros não apareciam mais em lugares estranhos. Riu ao lembrar-se destes recados.
 Como a loucura da multidão pode ser harmônica? Qual a lógica de achar paz na presença-ausente de um grande bagunceiro que lhe deixava rastros de sua personalidade controversa. Personalidade que matou.
- agora como sei que não matei parte de mim mesmo?
 Escondido no papelão do rolo do papel higiênico achou o último recado:
"Queremos ser 5, mas somos 2+3, matando o 2 não se forma 5."

quarta-feira, 3 de abril de 2013

No quanto do quarto: Shiu! Ela ainda pode voltar

I-
João era um bonito rapaz. Louro de cabelos escorridos até os ombros, olhos azuis, ombros largos e um corpo bem dividido como presente de um ótimo DNA. João poderia ser modelo de passarelas, João poderia ser modelo fotográfico, João poderia ser modelo de um escultor. João poderia ser o modelo de Da Vinci para "O homem vitruviano".
Seu sentimento a respeito da sociedade humana era semelhante a de uma criança diante a um prato de jiló.
João não gostava de ser visto, ou admirado por uma bandeja de jiló. Os mais belos e formosos jilós do mundo tinham desejo e atração por sua aparência, mas detestavam sua grosseria e prepotência.
Certa vez, uma bela garota se bateu de ombro com João. Diferentemente das outras pessoas, ela não pediu desculpas, ou o paquerou... apenas sussurrou alguns palavrões e continuou apressada. Essa criatura foi promovida a um belo e nojento brócolis.

II-
Abriu seus olhos de manhã como em um susto. Mas só porque achava divertido pensar que era um vilão "revivendo" no final de um filme de terror. Sentou-se e fez piada agradecendo a um deus que não acreditava por mais um dia de sofrimento das pessoas em que não se importava.
- Obrigado maravilhoso deus, por mais um ótimo dia de desgraça para a maioria das pessoas do planeta.- olhou no espelho e riu satisfeito com o que era refletido.
Foi até a cozinha, pegou um pedaço de bolo de chocolate e ia fugindo devagarinho pela porta dos fundos.
- Beijo!- sua mãe sem expressão cochichou cansada daquela rotina.
João não tinha cansado de brigar em casa, nem de xingar a mãe, ou o pai. João não se importava em fazer a mãe chorar por um beijo no qual ele não daria. Mas sem beijo não havia comida em casa, não havia bolo de chocolate no café da manhã.
Sem Aquele beijo sua mãe mudava suas roupas de lugar, não lavava as cuecas... só para não permitir a rotina, só porque ele gostava. Tudo que queria era um beijo e ela aprendera a usar a chantagem para conseguir. Era quase como vingança.
João lentamente se aproximou da mãe e tocou seus lábios na testa suada e nojenta de quem tinha acordado cedo para colocar o bolo no forno. Sentiu em seus lábios milhares de pequenas agulhas e os contraiu com força, tentando não expressar a dor em seu rosto. Apenas para o bolo de amanhã ser mais fofinho.
Então, era a vez de ser beijado. Olhou com raiva para aquela loura de cabelos desgrenhados esperando por aqueles lábios quebradiços e hálito de morte, ou catarro.
Quando sua mãe estala a boca na bochecha, serrou os dentes e apertou os olhos. Era como bater o dedo mindinho do pé em uma bigorna de desenho animado. Essa dor se espalhava pelo corpo a cada minuto em que sua boca tocava a bochecha de João, que logo que pôde, correu para porta.
Caminhava pela cidade olhando para cada cidadão e listando mentalmente seus defeitos. Andava até achar a paisagem mais próxima e desconhecida.
Sentou-se então em um porto fedido a peixe e viu um jovem senhor descarregando camarão de seu barco:
"- fedido
- pobre
- nariz grande demais
- careca
- sem talento
- burro..."

- Posso? - olhou para lado e uma garota parecia pedir para sentar-se a seu lado.
- Não! - isso costumava bastar, mas ela não esperou a resposta para juntar-se a ele.
- Eu sou Fernanda.
"- Voz enjoada
- Voz baixa
- Perfume doce
- Pouco perfume
- Bonita
- Discreta..."

- Já são 9h? - Fernanda agarrou seu braço para olhar as horas no relógio.
João sentiu os pelos de sua coxa subirem como "ola" dos torcedores de futebol. Sua genital passou a chamar sua atenção, os seus braços ficaram moles. Apoiou sua cabeça para trás e sentiu-se arrepiar como um beijo na nuca.
Pela primeira vez.

sábado, 16 de março de 2013

-Larara - escavam de seus lábios uma canção como sussurro.
- Lara... - cada vez mais baixa
- La... - cada vez mais pro ouvido.
 Mais pra ele, mais pro coração.

segunda-feira, 4 de março de 2013

3 segundos.

I-
Lentamente Marcos foi recuperando a consciência. Primeiro sentiu o cheio podre de meias velhas e sujas jogadas em algum canto do quarto. Em seguida tentou ouvir algum som, para adivinhar que dia da semana estava. Motos, buzinas, palavrões... Segunda-feira! De vagar foi abrindo os olhos e começou a sentir sua cabeça pesar, seu corpo doer, sua voz falhar. Gripe é uma merda.
Tudo estava nos conformes. Pizza velha jogada pelos cantos da casa. Garrafas de cerveja barata rolando pelo chão. Televisão ligada em um programa de auditório com uma puta loura falando merda sobre atores fodidos e com dinheiro até a goela.
Desligou sua televisão antiga que foi escurecendo nas bordas até o centro.
Rádio.
-Nossa, nossa, assim você me mata...
-Música fodida, bando de arrombado! - balbuciava palavrões com tanta naturalidade que eram apenas palavras normais.
Arrancou da tomada seu aparelho de som e o jogou na parede. Soltou um riso sádico e começou a catar toda sua sujeira aos gritos que eram quase que semelhantes a 5ª sinfonia de Beethoven.

II-
No meio de um sonho muito confortável o som alto do meu celular tocava Alala-Cansei de ser sexy
Era da editora e tinha certeza que aos berros, o editor chefe iria me cobrar mais um capítulo do meu livro.
- Alô, bom dia! - tentei ser cordial, estava errado mesmo.
- Claro, claro... ótimo dia! Meu dia está maravilhoso porque tenho certeza que agora mesmo vou atualizar a página do meu e-mail e terá não um, mas dois capítulos do meu livro. - "meu livro", eu faço todo o trabalho e o livro é dele.
- Bem, sobre isso, Marcus... eu não escrevi ainda, mas juro que até o final da semana eu te entrego os dois capítulos.
- ATÉ O FINAL DA SEMANA? VOCÊ QUER ME FODER? - desliguei o telefone e sabia que as consequências viriam.
Sentei-me na cama e levantei os braços o máximo que pude. Ao colocar os pés no chão senti o frio como um choque e procurei minhas pantufas.
Já animado para minha busca por inspiração andei até a cozinha para tomar uma tigela de cereal.
"Quanto tempo é necessário para mudar sua vida?" Eram essas as palavras escritas em tinta vermelha-sangue na minha parece branca. "Ligue 9856-2569".
Sentado no balcão de minha cozinha olhava aquelas palavras enquanto segurava o meu telefone já com o número discado e medo de ameaças.
Ligo?

I-
"Ligue 9856-2569".
- Marcos, você tem múltipla personalidade.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Morrer não dói?

Quanto sangue ainda podia faltar para que toda aquela união de órgãos morresse?

Mas ainda estava lá, caminhando. Viva. Estava sozinha? Esta dúvida era cortante.
Continuava a andar. As pedras úmidas formavam um eco a sua volta. Suas cordas vocais já não aguentavam mais:
 - Olá?
- Olá? Olá? Olá? – Essas repetições lhe davam esperanças.
Estava sozinha! Agora era uma certeza.
- Eu nunca tive essa dádiva da fé – falava em voz alta para fingir uma companhia e não enlouquecer. – Acho que o mundo sempre foi muito honesto comigo. Honesto, não justo.
 - É difícil acreditar, mas perto de tudo que passei certamente o diabo sente-se orgulhoso...
- E o que eu já te fiz de tão ruim? – Foi interrompida por uma voz.
Lá estava um rapaz louro e de olhos azuis, com um risinho irônico e uma beca alva.
- Quem é você? O diabo? Temos assuntos pendentes.
- Refresque-me a memória... Quem sabe de tudo é “Deus” – falou fazendo aspas no ar – eu sou imperfeito – porém, sem sombra de dúvidas, detentor de uma beleza inigualável.
- HAHAHA “Vou te fatiar para que fique irreconhecível até aos olhos de sua própria mãe”, foi isso que consegui ouvir de um guarda referindo-se ao meu irmão. Depois destas excitantes palavras o meu corpo foi invadido por aquele gordo. Isso aconteceu bem em cima das vísceras dos meus parentes.  Logo depois fui descartada, pois sou “um excremento”. Esse tipo de coisa não faz uma jovem garota crer em um deus, nem que seja para xinga-lo.
- Pelo que eu já vi e passei – continuou de forma tão indiferente que nem parecia que tudo aquilo era tão recente – sei que independente do que eu fizer e do que você faça comigo, já fizeram pior.
 - Você conhece a bíblia?  Todos aqueles milagres eu fiz. Os homens não mentiram a respeito de nada. Eu que menti. Eu sou o Deus de todos vocês, mas não tenho ideia de como vim parar aqui e nem porque sou eu. Sou imoral e imortal. Eu os fiz porque descobri que posso criar. Eu os mato para ficar sempre no poder. Acho gostoso ser bajulado como um deus, mas meu tesão é os destruir. Ah, como vocês são uns doces – suspirou com uma expressão sádica no rosto.
Com uma simples piscadela a garota começou a agonizar de forma exacerbada, sem uma simples explicação. Agonizou até finalmente ter espasmo.  

sábado, 2 de fevereiro de 2013


 Seus olhos queimavam em lágrimas quentes. O desespero rasgava sua garganta com ruídos que suas cordas vocais desconheciam.
 Em suas vistas estava novamente aquela imagem. Aquela menina. Uma criança sorridente e bem penteada, de vestido branco que a cobria até os joelhos. Branca como um fantasma, cabelos louros presos em uma presilha de libélula.  
 De repente, em um piscar de olhos, a linda menina se transformava em partes separadas de um corpo humano, partes que nem pareciam um dia ter pertencido a alguém. Era só um amontoado de carne com um rosto sorridente em seu pico. Como uma estrela no topo da árvore de natal. 
 Tentava se esconder daquela visão, mas aquele riso a perseguia, a vozinha aguda e sinceramente animada gritava em seus ouvidos como uma criança mimada: "HA-HA-HA".
 - PARE! PARE! - Arrancava cabelos tentando estancar as risadas. "HA-HA-HA". - POR FAVOR, EU FAÇO QUALQUER COISA!
 "Você sabe o que me faz feliz, irmãzinha". 
 E lá estavam os "remédios". Só assim sumia aquele corpo dilacerado e voltava à temporária calmaria de se sentir seguida todo o tempo por uma criança no qual nunca tinha visto, mas insistia em te chamar de irmã.
 - Eu não tenho irmã, eu não tenho mais irmã – se balançava de forma rápida enquanto sussurrava pensamentos para convencer o cérebro.
 Ela voltou.

 Mesmo depois de claras pistas de que sua única filha estava usando drogas, apenas ao encontra-la na rua, jogada aos mendigos canibais, quando dizia dormir na casa de uma amiga, foi que uma rica e ocupada empresária percebeu que tinham um problema.


- Eu tenho pai, mãe, irmã... Uma menininha linda de 9 anos. - ela viu diante dos seus olhos a imagem daquela bonequinha loura que tinha como irmã e deu um sorriso curto e tímido - Tenho amigos e amigas, comida, diversão, dinheiro... Eu tenho tudo que preciso, mas a única coisa que me mantêm viva são as agulhas.
 Respirou fundo e buscou dentro de seu espírito forças para continuar falando aquelas palavras sinceras e tão pessoais. Não era fácil.
 - Na verdade isso é mentira... Acho que é porque eu aprendi a mentir para me proteger da proteção dos meus pais e me entregar a uma vida em busca da morte. Eu não uso só heroína, na verdade eu usava o que tinha para me tirar da minha vida perfeitinha... 
 Ela suspirou forte e virou os olhos. Tinha certeza que ninguém entendia o que poderia levar "uma garota tão inteligente, bonita e de boa família" a fazer aquelas coisas que ela tinha feito.
 - Sei que minha vida sempre foi boa e que vivia em boa escola com boas pessoas, mas não foi má influência que me fez começar a usar essas coisas. Na verdade eu só queria um pouco mais de ação, mais vida, um pouco mais do que computador, celular e televisão. Eu queria sorrir de verdade e viver aventuras. Estou presa em uma desventura. 
 - Socorro.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Na hora era entre estancar a dor ou a alma


Sentia-se fraca demais. Patética, jogada no chão e chorando daquele jeito.
Tirou a mão que estava na altura do diafragma e viu seu sangue escorrer pelos dedos.
 "Levei um tiro", pensou de repente "mas por quê?" Não doía, na verdade era uma quentura gostosa que a invadia o corpo. "Caralho, que sede".
 - Á-água - gaguejou.
 Estranhos a sua volta ficavam gritando coisas sem sentido algum. Ela podia vê-los balbuciando e ouvir os sons de suas bocas, mas não conseguia compreende-los.
 - Á-água - tentou novamente. Sem sucesso.
 "Água! Por que meu corpo não me acompanha? É simples dizer 'eu quero água'". Impressão minha minha ou as pessoas estão em uma coloração diferente? Calma! Não fechem olhos..."
 - Ei, ei, fique acordada...
 As vozes estavam mais baixas. "Eu to com sono, não estou morren... CALMA! NÃO POSSO DORMIR!" Tentava lutar contra as pálpebras pesadas. "Esses filhos da puta não podem me dar um copo d'água?"
 Viu de longe uma sirene se aproximando e seu barulho a feria os tímpanos.
 - Aguente só mais um

sábado, 19 de janeiro de 2013

Solidão a dois

E lá estava. Rodeada de lágrimas de chuva.
Sabia que o tempo estava perfeito para ver um filme agarradinha com o namorado. Ou um romance pra chorar sozinha. Ou uma comédia romântica com a melhor amiga.
O céu estava branco de nuvens. Nuvens tristes: sem cavalos, ou rostos. Apenas o branco do céu.
Um sorriso surgia em sua boca. A sensação de solidão que nascia nas bordas de sua língua e escorregava até a ponta trazia um sabor adocicado.

Sabia que a solidão era uma coisa ruim e que todas as pessoas estavam a procura de alguém para envelhecer. Como podiam? Talvez fosse um pouco autista. Talvez as piadas que não foram ditas fossem mais engraçadas. Talvez fosse só a saudade daquele velho amor.
"Difícil é esquecer quando o mundo foi feito de ti". Ligou certa noite para dizer-lhe essas palavras, mas a vida não é um sonho... a ligação estava cortando e ele ficava repetindo "O que? O que?". Perdeu a magia, desligou.

Pensava em chegar em casa e ter apenas um prato para colocar na mesa e resolver comer em pé do lado da pia. E no silêncio que vai estar. Em trancar o portão porque sabe que mais ninguém vai chegar. Sentar sozinha no sofá. Sem conversar. Sem nem falar. Nem aquele silêncio gostoso quando estão lendo juntos. Nada disso.De repente ficou ansiosa para viver isso tudo. Pensou em dançar sozinha de calcinha na cozinha. Transformar o silêncio na voz de Freddie Mercury e entender exatamente o que ele quer dizer com "I want to break free". Suspirou. Que solidão gostosa.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Ana

 As pernas frágeis e trêmulas andavam em direção ao túmulo. "Ana deixou apaixonados, viúvos e a vida". Que lápide ridícula. Tentavam poetizar aquilo, mas era um lixo.
 Olhou fixa para aquelas palavras: "Ana deixou". Aquela não era a Ana que conhecia, aquilo não estava certo, não podia. Ana não abandonava. 
 Seu corpo magro já era tão fraco quanto suas pernas, quanto seu coração. Caiu de joelhos na terra fofa que ainda era fria. Como o copo de Ana.
 Agora lembrava daquela festa que foram juntas e Ana se vestira de morta. Não, ela não tinha noção de como ficaria morta. 
 - Morta... Morta...
 Cada vez que pensava nesse termo lhe era mais forte, mais destrutivo. 
 - Morta
E a machucava mais.
 - Morta... Ah, Ana...- suspirou sem deixar escorrer nem uma unica lágrima. Nem quente, nem fria. - morta...
 Quantos dias mais teria que conviver com aquela dor? Lembrou-se de um trecho: "tudo que morre fica vivo na lembrança, como é difícil viver carregando um cemitério na cabeça". Horas se passaram e aqueles pensamentos a destroçava. Aquela ideia de nunca mais estarem juntas. Aquele tempo que não voltaria. Horas se passavam e parecia que cada segundo a mutilava.
 - Ah, Ana... - sentiu seu sangue quente subir para cabeça. Podia senti-lo sair pelos olhos.
 Altos ruídos de dor que juravam ser de um homem sendo degolado por uma faca cega lhe escaparam pela garganta.
 - Ah, minha filha, por que eu bebi?

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Pelas raízes das rochas

 As cores vibravam, quase gemiam diante tanta luz, tanto calor. Estão em contraste as lágrimas que escorrem dos olhos dela. Ela que me faz bem. Ela que eu amo.
 Chorava sem piscar os olhos. Em seu rosto o que aflorava era o desgosto, a decepção. Em sua boca, um riso sínico, um gosto de vingança.
 Antigos pensamentos martelando arrependimentos atuais.
 Vozes estranhas declarando pensamentos próprios.
 Ruídos altos demais passavam atrás de sua música.
 Confusão interna, pessoal demais para externalizar.
 O mundo está assim, as casas voam, livres; as pipas se plantificam.
 Adeus, menina... Adeus a nós que sangramos sua voz... TUM, TUM!