sexta-feira, 28 de março de 2014

Saudades da terra

Deitado em uma cama de hospital, vi com o olho meio aberto ela entrar pela porta. A razão para eu estar no hospital e a razão para eu estar vivo.
Rapidamente fechei os olhos e fingi que estava dormindo. Do tipo que domina e está sempre certa, sentou-se ao meu lado e esperou. Eu sentia sua ansiedade ultrapassando a pele e contaminando todo o ambiente. Presa em seus pensamentos, as vezes sorria e eu podia ouvi-la balbuciando algumas meias palavras.
O tempo sempre voava ao lado e eu pensei que isso so acontecia quando ela falava sem parar, mas eu ali, totalmente curioso para ver seu sorriso de novo, estava totalmente direcionado a audição, rezando para que uma palavra escapasse.
Levemente sua mão tocou a minha e com o susto eu quase vacilei. O formigamento subiu pelos meus dedos até o meu coração que contraiu com força, como se fosse explodir.
- Mesmo dormindo você fica assim quando te toco - um pensamento alto escapou ao lado de um riso abafado.
A sensação de estar ao seu lado foi um tanto assustadora. Eu tava com medo, agora eu teria que encarar a verdade, eu me joguei de frente ao perigo para salvar ela

-Você acordou...
Estava na hora de encarar ela. Permaneci calado porque meus lábios não podiam acompanhar o tanto de coisa que passava em minha cabeça.
- Você é um idiota - a doce forma de aceitar o meu amor - você poderia ter morrido, eu não saberia o que fazer. Você sabe o que eu sinto, eu te amo, mas não amo assim... Você poderia ter morrido por alguém que não vale apena.
-Aceite o que eu estou sentindo... Pare de dizer que vai passar, que não merece, que não corresponde, aceite. Quando acabar, acabou, mas aceite o meu agora. Sei que parece maluquice, mas aceite.
Estava sentada em uma cadeira com pernas de ferro e assento de plástico branco. Eu não tinha reparado na cadeira, nem no teto, ou nas minhas cobertas. Mesmo sem ela ali eu reparava nela. Parecia uma dádiva não conseguir tirar sua imagem de minha cabeça. Ao mesmo tempo parecia um carma te-la na mente quando meu corpo parecia desmoronar se eu tivesse que ouvi-la me desiludir de novo.