quinta-feira, 9 de julho de 2015

O grande desgosto de escrever

Quem pode me garantir que um dia vou conseguir voltar a escrever?

Enquanto digito, eu leio em voz alta, como se tivesse em uma cena de filme dramático.
Eu bebo meu whisky, fumo um cigarro e sonho ser um poeta idoso e amargo, com voz rouca e toda a criatividade do mundo.
Eu sonho regar romances com as minhas palavras, sonho arrancar suspiros, sonho entender alguém que nunca vi na vida.
Eu sonho egoísta, sonho sozinha.

Mas elas me usam.
Aparecem apenas quando não aguentam mais estar em mim, 
As vezes eu preciso que elas saiam bem antes.
Eu me sento, escrevo e apago, 
São quatro da manhã.
Por favor, saiam de mim

As vezes doem tanto, as vezes não são reais.
As vezes saem como entraram, as vezes eu não consigo vê-las.
Por que dói tanto?
Escrever é horrível! 
E quem me garante que eu vou conseguir voltar a escrever?
Eu quero tanto, eu preciso tanto. 

Escrever é horrível. 

Eu preciso de ajuda! Eu preciso de um professor, eu preciso voltar a estudar literatura.
Eu preciso sentir, voltar a agir, voltar a viver.
Tem quanto tempo que eu não saio de mim? 
Alguém me diz o que aconteceu no intervalo de tempo entre as minha preces e a realidade.
Eu me perdi e não consigo mais escrever.
Como eram os movimentos dos dedos? Como eram as palavras? Por que elas não param de se repetir?
Como é mesmo a concordância daquela frase? Aquele verbo fica no infinitivo? 
Que dia eu esqueci como se escreve?

Eu odeio profundamente escrever.
Odeio o jeito com que eu penso em versos e o jeito com que eles se desmontam quando vão pro papel.
Eu não aguento mais ficar sem escrever.
Alguém me ajuda, alguém me ensina a colocar para fora.
Eu não me lembro como é escrever.

terça-feira, 17 de março de 2015

Sanear

Um pôr-do-sol se fez no horizonte, eu fui lama 
Larva, lava. 
Mudei e me queimei, foi ótimo. 
As raízes eram meio cristalinas e eu não pude, nem ao menos dizer
- Suas belas pernas, te trouxeram até aqui porque eu te amo.
Não disse, mas ouviu em seus ouvidos, ficou subentendido. 
Eu nos magoei, não farei mais, 
Só que você foi mau comigo, meu rapaz. 
Fiquei maluca, eu não pude nem de longe me mostrar como boa.
Sou mesmo qualquer tipo de fruta verde, doida pra ser devês.

Pairei por cada canto deste apartamento vazio, 
Sonhei acordada com seu canto e deitei sozinha,
Sofri, chorei, mas era tão doce ter do que falar.
Estou aqui, ainda na sua, ainda chateada, ou magoada,
Com algo que na realidade eu mesma fiz. 
Mas está tudo okay, não vou jamais me fazer escrava, 
De uma paixão tão gostosa e duradora, que eu nem pude apalpar. 
Você era demais e eu era tão pouca. 
Com muita vergonha. Vermelha, azul, verde. 
De todas as cores, eu fui, só para de admirar. 

Fui tudo, menos eu. Poderia gritar por mil andares o que eu fiz, 
Mas você não quer saber.
Então eu andei calada ao seu lado, pensando em como é bonito
Tudo. 
Eu acabei em mim e me senti completa, 
Você não gostou do final. 
Eu posso, meu bom moço, mudar cada palavra,
Mas você precisa me ouvir. 
Ouve: Eu vou estar aqui. 
 

quarta-feira, 4 de março de 2015

Nenhum córrego pôde correr tão rápido,
Quanto eu corri de mim mesma.
Eu quis deixar para trás todas as águas que me doíam,
Mas eu me deixei toda.
Achei que podia viver escarça de mim e fui.
Tão desesperada, tão perdida, que esqueci de ser triste.

Eu era tão patética, que sorria, jurava ser feliz,
Só que na realidade, eu nem ao menos me fiz.
Encontrei milhares de leitos, me deleitei tão sedenta,
Que nem me pus a sentir os beijos.
E pela manhã, antes de amanhecer, eu ia,
Porque jamais dormiria em outro seio, que não o seu.

Tentava deixar o meu vazio, nas camas que abandonava,
Mas o oco ficava em meu peito. E eu achava que era feliz.
Não da para contar em quantos banhos eu perdi minhas lágrimas
E fingi nunca ter chorado.
Não consigo me lembrar quantas garrafas sequei,
Achando que de álcool se faz festa.

Então, na praia, ou nas pedras, no meio do mar.
Eu ri, ri e me veio o desespero, então eu chorei.
Eu chorei de rir, ou chorei por estar rindo.
Eu ri de verdade pela primeira vez, desde que acabou.
Abaixei a cabeça e chorei mais.
Eu não te amava porque me fazia feliz, ou me fazia rir.
Você não faz mais e ainda amo.
Eu apenas amava, apenas amo.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Eu nasci e me criei totalmente errada e fora de normatividade.
Fui feita para morrer em cada verso de cada poesia

E eu morri.
Tão fraca, feia, mal vestida
Tão gorda, mal educada, tão burra.

Morri e nem ao menos salvei uma alma se quer.
Morri sem mudar o mundo, morri sem fazer um sorriso.
Morri por morrer. O sol nasceu, as flores no meu túmulo secaram.
O tempo passou e minha morte já era o comum.

Quando eu vivi, não havia mais ninguém.
De minha morte se fez rotina e da minha vida, preconceito.
Não tinha mais ninguém por mim, tudo tinha passado.
Não havia mais uma oração antes de dormir,
Ninguém pensava mais como eu me sentia.
E eu nunca tive certeza de que podia realmente amar.

Eu vivi sem nem ao menos ter uma vida.
Eu abri os olhos e os meus problemas eram só meus,
As minhas lágrimas me afogavam porque não tinha ninguém para enxuga-las.
Eu era o pó derramado no mar e a solução de muitos problemas.

Um mendigo não pode ser agredido com um moeda,
Mas em minha cara, o perdão foi cuspido cheio de catarro e falsa esperança.
Não toque mais em mim, não fale mais o meu nome.
Eu posso provar com cada lágrima sangrenta, quantas vezes eu morri.
Tenho gravado em cada risco, sua voz subentendida me gritando.

Eu errei uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, milhares de infinitas vezes
E eu te pedi perdão. Eu sofri e chorei com cada erro e te pedi perdão.
Mas o meu sofrimento causado por mim mesma não conta.
Me faça sofrer você mesmo. Entre justiça e vingança.
Entre reciprocidade e ego.
Não importa mais. Não sorria mais, nunca mais.
Você me agrediu com suas mãos, com suas palavras,
Você aceitava e agia bem com o meu silêncio,
Mas ouço cada dedo muito bem justificado para me ferir.

domingo, 25 de janeiro de 2015

Que dia mais esquisito,
         Eu não sei mais
o que                          quem
é o                              é o
amor                          amor
 E se eu te tatuar em mim?
Árvores azuis e céus verdes.
             Onde está você?
você me                       me
tomou                          suou
um sorvete                 tão
tão quente                 doce e
salgado                    calmo
         No fundo eu sei
Tudo bem, eu já vou, meu amor

Hoje já fazem exato quatro mil anos que o laranja passou ser tão bem pensado.
Preciso guardar metade de mim ma caixa do passado.
Eu morri, você consegue se lembrar do meu enterro? Usava um terno verde e no fundo do coração, achava graça de me ver com sua roupa favorita. Morri.
Tão lento que cansou parte da plateia atenta. Não derramou uma lágrima, mas chorou de saudade.
Eu poderia mesmo achar fácil brindar de bebida amarga, uma vida tão doce e pastoso amor. Ah, Roxanne, seu nome não poderia ser mais dramático.
Por favor, Roxanne.
Me ame
E seja mais minha esperança.
Eu evitei dizer seu nome porque não paro de repetir. Roxanne.
Você sabia que olho o seu retrato enquanto durmo?
O que eu sinto quando te escrevo é quase tão maturo quanto uma maçã brasileira bem crocante. Quase tão doce quanto quanto um suco de laranja sem açúcar, bem aquele da praça.
Roxanne sorriu.
E sentiu-se vingada.
Volta que o azeite do meu omelete perdeu o gosto.
Shiu. Engole a bronca.
Sorria de novo
Prenda o fio solto no coque e vá.
Entre no caixão e meu "yes". Sempre foi seu. E eu nem morri de amores.
Roxanne, seus pais já não importam e suas transas pelos quartos são tão falsas. Eu te vejo gemer, só não sinto mais. Concorde comigo, que seja por pena.
Não chore por mim, meu amor foi marrom e você é esmeralda bruta. Não pense mais em mim. É a minha última esperança para me desprender da terra e voar.
Como voava.
São notas fora do tom. Você é mas que lá. Eu te prefiro cá. E não pariu. Não entendi como os fatores formaram o resultado, só copiei do quadro negro. Aceitei. Foi e foi. Nem pensei em chorar.
Mas todos os meus órgãos falharam de vez.
Sorria daí, Roxanne
Era uma manhã de sol insuportável. Roxanne nem ao menos se importou em se queimar, ou me deixar vermelho.
Me lembro de usar um terno verde, como prova do meu luto.
Ela abriu as assas, bem esticadas e voou pela sacada da janela. Eu encostei o rosto em uma das vigas do parapeito e deixei as lágrias obstruírem a minha visão.
Cada vez ficando menor. Menor e menor. E passou. Até sangrou, mas acabou. Acabou?

Raxanne nem de perto era santa.  Era, na ordem: doce, azeda, doce. E mal criada.
Hoje acho graça de cada meia mania que já me irritou.
Gostaria de voltar no tempo e me fazer direito. Elogiar cada sorriso. E eu elogiei. Mas foi
Era graça, era caro, era infinito e era eterno, mas não era.
Era para ser para sempre, mas não foi,
Roxanne foi. E agora é. Como se pudesse deixar de ser. Eu era tão doce e amargo, que não podia aturar o azedo dela. Quase morri quando Roxanne morreu.

Você consegue se lembrar? Roxanne morreu, mas quem estava na beira da morte, era eu. Tinha até um padre perdoando os meus pecados. Mas aí eu senti um frio na espinha. Roxanne morreu. E eu vivi. Eu vivi porque morrer deixou de ser o pior dos castigos.

Roxanne. Não existem fotografias, não existe tecnologia, não existem as palavras corretas e minha memória é horrível. Minha mãe está na minha frente, se eu fechar meus olhos por um segundo, não me lembro de sua aparência, mas você. Mas quando eu descanso, são seus olhos que eu vejo. Lembro de suas pintas, de seus sinais e lembro de sua barriga. Eu consigo te ver, mas não consigo de ouvir.
Me desculpe, Roxanne.
Eu acredito em tudo ainda, eu faria tudo ainda. Mas não fiz e você se foi. Um vento tão frio e um calor tão intenso, que machuca. Machuca tanto. Você sabe?
Você já sentiu uma gota de chuva antes de chover? Você já tomou banho de chuva e riu do passado triste? E sentiu-se feliz?
Você acha que vou conseguir realizar os meus sonhos, se você não sorri mais dos meus mais ridículos defeitos enraizados? Ou se eu vou conseguir brilhar, se você não me surpreende mais com as coisas mais bonitas do mundo?
Roxanne morreu em uma manhã de sábado. Uma manhã quente, ou fria. Não importava. Era um aniversário. Meu ou dela. Mas era um dia de festa. Como pode uma pessoa morrer em um dia de felicitações? Eu odeio me lembrar de como você era morena e de como seu sorriso destacava sua pele. Eu odeio me procurar em um presente que não existem diamantes, eu odeio viver em um tempo sem Roxanne Doce, azeda, doce. Doce Roxanne sorridente.