Seus olhos queimavam em lágrimas quentes. O desespero rasgava sua
garganta com ruídos que suas cordas vocais desconheciam.
Em suas vistas estava novamente aquela imagem. Aquela
menina. Uma criança sorridente e bem penteada, de vestido branco que a cobria
até os joelhos. Branca como um fantasma, cabelos louros presos em uma presilha
de libélula.
De repente, em um piscar de olhos, a linda menina se
transformava em partes separadas de um corpo humano, partes que nem pareciam um
dia ter pertencido a alguém. Era só um amontoado de carne com um rosto
sorridente em seu pico. Como uma estrela no topo da árvore de natal.
Tentava se esconder daquela visão, mas aquele riso a
perseguia, a vozinha aguda e sinceramente animada gritava em seus ouvidos como
uma criança mimada: "HA-HA-HA".
- PARE! PARE! - Arrancava cabelos tentando estancar as
risadas. "HA-HA-HA". - POR FAVOR, EU FAÇO QUALQUER COISA!
"Você sabe o que me faz feliz, irmãzinha".
E lá estavam os "remédios". Só assim sumia aquele
corpo dilacerado e voltava à temporária calmaria de se sentir seguida todo o
tempo por uma criança no qual nunca tinha visto, mas insistia em te chamar de
irmã.
- Eu não tenho irmã, eu não
tenho mais irmã – se balançava de forma rápida enquanto sussurrava pensamentos
para convencer o cérebro.
Ela voltou.
Mesmo depois de claras
pistas de que sua única filha estava usando drogas, apenas ao encontra-la na
rua, jogada aos mendigos canibais, quando dizia dormir na casa de uma amiga,
foi que uma rica e ocupada empresária percebeu que tinham um problema.
- Eu tenho pai, mãe, irmã... Uma menininha linda de 9 anos. - ela
viu diante dos seus olhos a imagem daquela bonequinha loura que tinha como irmã
e deu um sorriso curto e tímido - Tenho amigos e amigas, comida, diversão, dinheiro...
Eu tenho tudo que preciso, mas a única coisa que me mantêm viva são as agulhas.
Respirou fundo e buscou dentro de seu espírito forças para
continuar falando aquelas palavras sinceras e tão pessoais. Não era fácil.
- Na verdade isso é mentira... Acho que é porque eu aprendi
a mentir para me proteger da proteção dos meus pais e me entregar a uma vida em
busca da morte. Eu não uso só heroína, na verdade eu usava o que tinha para me
tirar da minha vida perfeitinha...
Ela suspirou forte e virou os olhos. Tinha certeza que
ninguém entendia o que poderia levar "uma garota tão inteligente, bonita e
de boa família" a fazer aquelas coisas que ela tinha feito.
- Sei que minha vida sempre foi boa e que vivia em boa
escola com boas pessoas, mas não foi má influência que me fez começar a usar
essas coisas. Na verdade eu só queria um pouco mais de ação, mais vida, um
pouco mais do que computador, celular e televisão. Eu queria sorrir de verdade
e viver aventuras. Estou presa em uma desventura.
:o demais...
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