sábado, 2 de fevereiro de 2013


 Seus olhos queimavam em lágrimas quentes. O desespero rasgava sua garganta com ruídos que suas cordas vocais desconheciam.
 Em suas vistas estava novamente aquela imagem. Aquela menina. Uma criança sorridente e bem penteada, de vestido branco que a cobria até os joelhos. Branca como um fantasma, cabelos louros presos em uma presilha de libélula.  
 De repente, em um piscar de olhos, a linda menina se transformava em partes separadas de um corpo humano, partes que nem pareciam um dia ter pertencido a alguém. Era só um amontoado de carne com um rosto sorridente em seu pico. Como uma estrela no topo da árvore de natal. 
 Tentava se esconder daquela visão, mas aquele riso a perseguia, a vozinha aguda e sinceramente animada gritava em seus ouvidos como uma criança mimada: "HA-HA-HA".
 - PARE! PARE! - Arrancava cabelos tentando estancar as risadas. "HA-HA-HA". - POR FAVOR, EU FAÇO QUALQUER COISA!
 "Você sabe o que me faz feliz, irmãzinha". 
 E lá estavam os "remédios". Só assim sumia aquele corpo dilacerado e voltava à temporária calmaria de se sentir seguida todo o tempo por uma criança no qual nunca tinha visto, mas insistia em te chamar de irmã.
 - Eu não tenho irmã, eu não tenho mais irmã – se balançava de forma rápida enquanto sussurrava pensamentos para convencer o cérebro.
 Ela voltou.

 Mesmo depois de claras pistas de que sua única filha estava usando drogas, apenas ao encontra-la na rua, jogada aos mendigos canibais, quando dizia dormir na casa de uma amiga, foi que uma rica e ocupada empresária percebeu que tinham um problema.


- Eu tenho pai, mãe, irmã... Uma menininha linda de 9 anos. - ela viu diante dos seus olhos a imagem daquela bonequinha loura que tinha como irmã e deu um sorriso curto e tímido - Tenho amigos e amigas, comida, diversão, dinheiro... Eu tenho tudo que preciso, mas a única coisa que me mantêm viva são as agulhas.
 Respirou fundo e buscou dentro de seu espírito forças para continuar falando aquelas palavras sinceras e tão pessoais. Não era fácil.
 - Na verdade isso é mentira... Acho que é porque eu aprendi a mentir para me proteger da proteção dos meus pais e me entregar a uma vida em busca da morte. Eu não uso só heroína, na verdade eu usava o que tinha para me tirar da minha vida perfeitinha... 
 Ela suspirou forte e virou os olhos. Tinha certeza que ninguém entendia o que poderia levar "uma garota tão inteligente, bonita e de boa família" a fazer aquelas coisas que ela tinha feito.
 - Sei que minha vida sempre foi boa e que vivia em boa escola com boas pessoas, mas não foi má influência que me fez começar a usar essas coisas. Na verdade eu só queria um pouco mais de ação, mais vida, um pouco mais do que computador, celular e televisão. Eu queria sorrir de verdade e viver aventuras. Estou presa em uma desventura. 
 - Socorro.

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