quarta-feira, 3 de abril de 2013

No quanto do quarto: Shiu! Ela ainda pode voltar

I-
João era um bonito rapaz. Louro de cabelos escorridos até os ombros, olhos azuis, ombros largos e um corpo bem dividido como presente de um ótimo DNA. João poderia ser modelo de passarelas, João poderia ser modelo fotográfico, João poderia ser modelo de um escultor. João poderia ser o modelo de Da Vinci para "O homem vitruviano".
Seu sentimento a respeito da sociedade humana era semelhante a de uma criança diante a um prato de jiló.
João não gostava de ser visto, ou admirado por uma bandeja de jiló. Os mais belos e formosos jilós do mundo tinham desejo e atração por sua aparência, mas detestavam sua grosseria e prepotência.
Certa vez, uma bela garota se bateu de ombro com João. Diferentemente das outras pessoas, ela não pediu desculpas, ou o paquerou... apenas sussurrou alguns palavrões e continuou apressada. Essa criatura foi promovida a um belo e nojento brócolis.

II-
Abriu seus olhos de manhã como em um susto. Mas só porque achava divertido pensar que era um vilão "revivendo" no final de um filme de terror. Sentou-se e fez piada agradecendo a um deus que não acreditava por mais um dia de sofrimento das pessoas em que não se importava.
- Obrigado maravilhoso deus, por mais um ótimo dia de desgraça para a maioria das pessoas do planeta.- olhou no espelho e riu satisfeito com o que era refletido.
Foi até a cozinha, pegou um pedaço de bolo de chocolate e ia fugindo devagarinho pela porta dos fundos.
- Beijo!- sua mãe sem expressão cochichou cansada daquela rotina.
João não tinha cansado de brigar em casa, nem de xingar a mãe, ou o pai. João não se importava em fazer a mãe chorar por um beijo no qual ele não daria. Mas sem beijo não havia comida em casa, não havia bolo de chocolate no café da manhã.
Sem Aquele beijo sua mãe mudava suas roupas de lugar, não lavava as cuecas... só para não permitir a rotina, só porque ele gostava. Tudo que queria era um beijo e ela aprendera a usar a chantagem para conseguir. Era quase como vingança.
João lentamente se aproximou da mãe e tocou seus lábios na testa suada e nojenta de quem tinha acordado cedo para colocar o bolo no forno. Sentiu em seus lábios milhares de pequenas agulhas e os contraiu com força, tentando não expressar a dor em seu rosto. Apenas para o bolo de amanhã ser mais fofinho.
Então, era a vez de ser beijado. Olhou com raiva para aquela loura de cabelos desgrenhados esperando por aqueles lábios quebradiços e hálito de morte, ou catarro.
Quando sua mãe estala a boca na bochecha, serrou os dentes e apertou os olhos. Era como bater o dedo mindinho do pé em uma bigorna de desenho animado. Essa dor se espalhava pelo corpo a cada minuto em que sua boca tocava a bochecha de João, que logo que pôde, correu para porta.
Caminhava pela cidade olhando para cada cidadão e listando mentalmente seus defeitos. Andava até achar a paisagem mais próxima e desconhecida.
Sentou-se então em um porto fedido a peixe e viu um jovem senhor descarregando camarão de seu barco:
"- fedido
- pobre
- nariz grande demais
- careca
- sem talento
- burro..."

- Posso? - olhou para lado e uma garota parecia pedir para sentar-se a seu lado.
- Não! - isso costumava bastar, mas ela não esperou a resposta para juntar-se a ele.
- Eu sou Fernanda.
"- Voz enjoada
- Voz baixa
- Perfume doce
- Pouco perfume
- Bonita
- Discreta..."

- Já são 9h? - Fernanda agarrou seu braço para olhar as horas no relógio.
João sentiu os pelos de sua coxa subirem como "ola" dos torcedores de futebol. Sua genital passou a chamar sua atenção, os seus braços ficaram moles. Apoiou sua cabeça para trás e sentiu-se arrepiar como um beijo na nuca.
Pela primeira vez.

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