domingo, 25 de janeiro de 2015

Era uma manhã de sol insuportável. Roxanne nem ao menos se importou em se queimar, ou me deixar vermelho.
Me lembro de usar um terno verde, como prova do meu luto.
Ela abriu as assas, bem esticadas e voou pela sacada da janela. Eu encostei o rosto em uma das vigas do parapeito e deixei as lágrias obstruírem a minha visão.
Cada vez ficando menor. Menor e menor. E passou. Até sangrou, mas acabou. Acabou?

Raxanne nem de perto era santa.  Era, na ordem: doce, azeda, doce. E mal criada.
Hoje acho graça de cada meia mania que já me irritou.
Gostaria de voltar no tempo e me fazer direito. Elogiar cada sorriso. E eu elogiei. Mas foi
Era graça, era caro, era infinito e era eterno, mas não era.
Era para ser para sempre, mas não foi,
Roxanne foi. E agora é. Como se pudesse deixar de ser. Eu era tão doce e amargo, que não podia aturar o azedo dela. Quase morri quando Roxanne morreu.

Você consegue se lembrar? Roxanne morreu, mas quem estava na beira da morte, era eu. Tinha até um padre perdoando os meus pecados. Mas aí eu senti um frio na espinha. Roxanne morreu. E eu vivi. Eu vivi porque morrer deixou de ser o pior dos castigos.

Roxanne. Não existem fotografias, não existe tecnologia, não existem as palavras corretas e minha memória é horrível. Minha mãe está na minha frente, se eu fechar meus olhos por um segundo, não me lembro de sua aparência, mas você. Mas quando eu descanso, são seus olhos que eu vejo. Lembro de suas pintas, de seus sinais e lembro de sua barriga. Eu consigo te ver, mas não consigo de ouvir.
Me desculpe, Roxanne.
Eu acredito em tudo ainda, eu faria tudo ainda. Mas não fiz e você se foi. Um vento tão frio e um calor tão intenso, que machuca. Machuca tanto. Você sabe?
Você já sentiu uma gota de chuva antes de chover? Você já tomou banho de chuva e riu do passado triste? E sentiu-se feliz?
Você acha que vou conseguir realizar os meus sonhos, se você não sorri mais dos meus mais ridículos defeitos enraizados? Ou se eu vou conseguir brilhar, se você não me surpreende mais com as coisas mais bonitas do mundo?
Roxanne morreu em uma manhã de sábado. Uma manhã quente, ou fria. Não importava. Era um aniversário. Meu ou dela. Mas era um dia de festa. Como pode uma pessoa morrer em um dia de felicitações? Eu odeio me lembrar de como você era morena e de como seu sorriso destacava sua pele. Eu odeio me procurar em um presente que não existem diamantes, eu odeio viver em um tempo sem Roxanne Doce, azeda, doce. Doce Roxanne sorridente.

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