quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Ana

 As pernas frágeis e trêmulas andavam em direção ao túmulo. "Ana deixou apaixonados, viúvos e a vida". Que lápide ridícula. Tentavam poetizar aquilo, mas era um lixo.
 Olhou fixa para aquelas palavras: "Ana deixou". Aquela não era a Ana que conhecia, aquilo não estava certo, não podia. Ana não abandonava. 
 Seu corpo magro já era tão fraco quanto suas pernas, quanto seu coração. Caiu de joelhos na terra fofa que ainda era fria. Como o copo de Ana.
 Agora lembrava daquela festa que foram juntas e Ana se vestira de morta. Não, ela não tinha noção de como ficaria morta. 
 - Morta... Morta...
 Cada vez que pensava nesse termo lhe era mais forte, mais destrutivo. 
 - Morta
E a machucava mais.
 - Morta... Ah, Ana...- suspirou sem deixar escorrer nem uma unica lágrima. Nem quente, nem fria. - morta...
 Quantos dias mais teria que conviver com aquela dor? Lembrou-se de um trecho: "tudo que morre fica vivo na lembrança, como é difícil viver carregando um cemitério na cabeça". Horas se passaram e aqueles pensamentos a destroçava. Aquela ideia de nunca mais estarem juntas. Aquele tempo que não voltaria. Horas se passavam e parecia que cada segundo a mutilava.
 - Ah, Ana... - sentiu seu sangue quente subir para cabeça. Podia senti-lo sair pelos olhos.
 Altos ruídos de dor que juravam ser de um homem sendo degolado por uma faca cega lhe escaparam pela garganta.
 - Ah, minha filha, por que eu bebi?

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